A internação psiquiátrica é uma medida extrema para o tratamento de dependência química, devendo ser aplicada somente nos casos em que o usuário não possui mais capacidade de discernimento.
Quando uma pessoa se torna usuário compulsivo de drogas, ocorrem perturbações mentais que fazem com que o usuário se torne um perigo para si mesmo ou para as pessoas que o rodeiam.
A internação psiquiátrica, atualmente, muitas poucas vezes é aplicada a casos de transtornos mentais, principalmente em razão de tratamentos modernos, em que o paciente pode ser tratado na convivência com seus familiares. Contudo, com o aumento de uma grande quantidade de novas drogas, que são mais viciantes do que as anteriormente conhecidas, a internação é o melhor meio para, ao mesmo tempo, promover o tratamento e evitar que o usuário continue consumindo as substâncias.
Para pessoas que não são usuárias de drogas, a internação psiquiátrica somente é recomendada em casos em que o paciente corre o risco de cometer suicídio, ou quando ocorrer surtos de psicose que tornam a pessoa agressiva ou violenta, oferecendo perigo para si próprio ou para terceiros.
Leia também sobre “remoção dependente químico” involuntária, pacientes que não aceita ir para tratamento.
Conteúdo da página:
- Internação psiquiátrica para dependentes: como funciona?
- Adaptação da lei de psiquiatria para a lei de drogas
- Condições em que se exige a internação psiquiátrica
- Dependentes são pessoas que precisam de auxílio
- Existem riscos na internação psiquiátrica?
- Se você tem algum familiar que não aceita ajuda, procure o tratamento e encontre uma empresa de remoção.
Internação psiquiátrica para dependentes: como funciona?
A internação psiquiátrica para dependentes químicos é uma medida prevista em lei, podendo ser aplicada sem o consentimento do paciente, em situações que exigem o isolamento do paciente da sociedade, a pedido dos familiares.
Contudo, mesmo que haja pedido de um familiar, isso não é suficiente para que uma clínica aceite a internação. É preciso que um médico faça um diagnóstico e verifique essa necessidade. Além disso, o Ministério Público deve ser informado no prazo máximo de 72 horas depois da internação, para que seja feito um acompanhamento criterioso, tanto das condições da clínica quanto dos profissionais e do próprio paciente.
Uma situação similar ocorre com a internação compulsória, também permitida pela legislação, quando um Juiz da Vara Familiar, atendendo ao pedido de um médico, através de laudo diagnosticando a necessidade, determina que o paciente deva ser internado para tratamento.
Uma das formas de internação compulsória ainda é a medida de segurança, quando uma pessoa com transtornos mentais, usuária ou não de drogas, precise ser isolada em razão de transgressão de leis penais ou cometimento de crimes.
Nesses casos, a pessoa não pode ser considerada legalmente criminosa, já que se considera que seja incapaz de entender os atos que cometeu. Assim, tornam-se pacientes internados para tratamento, já que não têm consciência ou condições de conviver pacificamente na sociedade.
A internação psiquiátrica, portanto, pode ser aplicada em qualquer dos casos em que o paciente possa oferecer riscos. Mas, essa medida pode ser benéfica para o paciente, principalmente quando usuário de drogas compulsivo?
Adaptação da lei de psiquiatria para a lei de drogas
A sociedade, infelizmente, ainda não possui meios de tratar um dependente químico portador de transtornos mentais a não ser com a internação psiquiátrica, que pode ser compulsória ou involuntária. Mesmo havendo uma lei de drogas, essa legislação não traz qualquer solução para que o usuário compulsivo tenha esse tratamento, razão pela qual adaptou-se a Lei da Reforma Psiquiátrica para dependentes químicos.
Muitos especialistas garantem que a internação psiquiátrica não apresenta benefícios para o paciente, uma vez que ele é obrigado a seguir uma terapia e, como a internação não pode ser feita por prazo muito prolongado, depois de tratado, o paciente retorna às ruas e, fatalmente, ao consumo de substâncias, uma vez que o tratamento foi feito contra sua vontade.
Uma internação por período mais longo e a abstinência forçada, para o paciente, pode se apresentar como forma de castigo, muito embora tenha como objetivo fazer com que se conscientize dos prejuízos causados pelas drogas. Para os especialistas que são contra essa medida, o processo não passa de uma exclusão social, além de representar uma repressão contra a liberdade individual.
Para oferecer uma solução eficaz contra as drogas, os especialistas afirmam que medidas preventivas devem ser tomadas, principalmente com relação a crianças e adolescentes, que devem ser alertados contra os riscos trazidos pelas drogas.
A internação psiquiátrica de dependentes químicos, dessa forma, não é o melhor meio de combater as drogas. Contudo, diante da situação verificada atualmente nos grandes centros urbanos, oferece uma saída temporária para o problema. Ou seja, a internação contra a vontade é a solução menos invasiva e menos agressiva contra os direitos fundamentais de qualquer pessoa.
Um dos grandes riscos desse tipo de internação é exatamente a retirada da pessoa da sociedade, tornando-a prisioneira de um modelo de tratamento que pode não apresentar qualquer resultado positivo.
Devemos destacar, no entanto, que a internação psiquiátrica para dependentes químicos é uma medida que somente é aplicada por um Juiz quando analisadas todas as condições do estabelecimento onde o paciente será internado, ou seja, busca-se garantir todos os seus direitos, tendo apenas como objetivo sua recuperação e sua inserção no contexto social.
Condições em que se exige a internação psiquiátrica
A internação psiquiátrica só pode ser feita diante de uma situação que exija o tratamento em ambiente diferenciado. Em razão do diagnóstico e por respeito ao paciente, o tratamento deve ser feito em um ambiente que traga condições para que o paciente possa enfrentar melhor sua condição médica e se recuperar.
Certamente, o ambiente mais propício é um hospital ou uma clínica, onde o paciente receberá cuidados intensivos, possibilitando que sejam aplicados métodos e terapias específicas.
Da mesma forma como acontece em procedimentos cirúrgicos, quando o paciente deve ficar internado por um determinado tempo para se recuperar, o paciente dependente químico deve ser excluído do meio em que vive para que possa enfrentar a realidade, depois do período de abstinência.
Além disso, com o avanço do conhecimento, a internação psiquiátrica pode ser feita por um curto período, oferecendo-se ao paciente o atendimento ambulatorial, permitindo que ele possa retornar para o convívio familiar enquanto se restabelece.
Assim, o que podemos analisar é que a internação psiquiátrica não pode ser descartada em certos casos. Se uma pessoa usuária compulsiva de drogas perde a capacidade de raciocínio, ainda não existe outra forma de fazer com que possa estar sóbrio para ter consciência de suas condições físicas e mentais.
Ao mesmo tempo, é preciso também entender que internar um paciente pode ser a chance única de preservar sua vida, uma vez que grande parte dos usuários compulsivos acaba por chegar a um final drástico, cometendo suicídio.
A internação psiquiátrica, portanto, permite aplicar o tratamento necessário, inclusive na fase em que é essencial um acompanhamento constante do paciente, até que possa retornar ao comando de suas faculdades mentais.
O que não se pode é confundir as coisas, ou seja, considerar que a internação seja uma forma de exclusão social, eliminando do meio social uma pessoa que não está capacitada para a convivência pacífica e ordeira com outros seres humanos.
Devemos também atentar para o fato de que os familiares, de forma geral, não têm o conhecimento necessário, ou mesmo disponibilidade de tempo ou de recursos para cuidar de uma pessoa que não tem capacidade de discernimento.
Entramos na questão de que a internação psiquiátrica para dependentes químicos só pode ser aplicada mediante autorização médica, no caso de involuntária, ou com autorização judicial, no caso de compulsória.
Se o usuário de drogas está consciente de que tem um problema, ele mesmo pode solicitar a internação para o tratamento, e isso pode ser feito independentemente de qualquer outra autorização, seja médica ou jurídica.
Existem muitos casos em que o paciente demonstra sua intenção e a necessidade de passar por um tratamento em regime de internato, o que demonstra que possui capacidade de discernimento e percebe que, sozinho, não irá conseguir vencer a luta contra as drogas.
Porém, existem casos em que o usuário não demonstra autodeterminação, em consequência do estado alterado de consciência, impedindo que perceba a realidade e possa escolher o tratamento como medida mais adequada para sua recuperação.
Nesses casos, a internação psiquiátrica pode ser feita à revelia e, mesmo que não seja uma medida totalmente aprovada pelos especialistas médicos, é uma forma de trazer novamente o portador de transtornos mentais em decorrência do uso de drogas a uma posição de reconhecimento de sua condição.
Dependentes são pessoas que precisam de auxílio
A internação psiquiátrica é, hoje, a principal maneira de oferecer a ajuda necessária a um dependente químico portador de transtornos mentais. Nos casos em que se exige o afastamento do paciente da sociedade, possibilitar que ele seja recolhido a uma instituição é a melhor alternativa para sua recuperação.
A dependência química é desenvolvida a partir do momento em que um usuário de drogas passa a consumir maior quantidade ou durante muito mais tempo, mas a questão não deve ser vista apenas sob esse ponto de vista.
É essencial descobrir as causas do problema, ou seja, entender porque o indivíduo começou a usar drogas e resolver os problemas em sua raiz. Uma pessoa não passa a ser dependente química simplesmente por gostar das drogas, mas por alguma razão que a levou a esse caminho.
Entender essas razões é impossível se o usuário não estiver com suas faculdades mentais sob comando. Ele não irá conseguir colocar os problemas por que passou antes que chegasse a essa condição de perder o discernimento.
A internação psiquiátrica, assim, se torna a primeira fase de um tratamento continuado, quando poderão ser sanadas as condições que o levaram a usar compulsivamente substâncias químicas que distorcem a realidade.
Como já informamos, a internação não pode ser feita por um período prolongado, mas sim durante um tempo possível para que o dependente químico possa superar a síndrome de abstinência e se conscientizar dos prejuízos provocados pelas drogas.
Mesmo que a medida seja rejeitada, a princípio, pelo próprio dependente, quando ele se recusa a aceitar qualquer tipo de terapia, esse fato pode ser superado com a decorrência da internação, passando a confiar nos profissionais que estão cuidando dele, entendendo que querem sua recuperação da mesma forma como ele, certamente, também o quer em seu íntimo.
Devemos entender que, hoje, a internação psiquiátrica deixou de ter o objetivo de eliminar uma pessoa, excluí-la da sociedade, uma vez que apresenta riscos para si mesmo ou para outros.
Hoje, a internação é uma forma de começar um tratamento que pode ser muito mais prolongado, em alguns casos podendo levar anos até que o indivíduo que se deixou levar pelas drogas possa entender e superar os problemas que o levaram a esse caminho.
Depois do período em que passa internado, o dependente continua com o tratamento psiquiátrico ambulatorial, é incentivado a participar de grupos de autoajuda com a participação de seus familiares e conduzido a uma convivência mais pacífica com a sociedade.
O dependente químico é uma pessoa que está pedindo ajuda e a forma como o faz não deve chocar as pessoas com quem convive. Em muitos casos, outras formas de chamar a atenção para seus problemas não surtiram qualquer efeito e, em razão disso, buscou meios para que as pessoas prestassem mais atenção às suas carências ou problemas.
Existem riscos na internação psiquiátrica?
O que a internação psiquiátrica menos oferece são riscos ao paciente. Os métodos e terapias atualmente aplicados são feitos por profissionais capacitados e experientes, especialistas nesse tipo de tratamento.
Evidentemente, para os familiares é importante selecionar uma clínica que possa oferecer todas as condições para que o paciente possa se recuperar. Da mesma forma que encontramos bons estabelecimentos, também podemos nos deparar com pseudo clínicas que só estão interessadas em comercializar seus serviços, não oferecendo as mínimas condições para que um paciente possa ser devidamente tratado.
Dessa maneira, sempre que for necessário procurar um estabelecimento para a internação psiquiátrica de um dependente químico, é necessário conhecer o ambiente, pesquisar sobre os profissionais responsáveis, conversar com eles pessoalmente e verificar sob que condições e quais as terapias que serão aplicadas.
Quando a internação involuntária for solicitada a um médico psiquiatra, a responsabilidade é desse profissional de saúde, que pode indicar o melhor local para que o dependente possa ser tratado.
Da mesma forma, quando é feita a internação compulsória, o Juiz tem por obrigação definir um estabelecimento clínico que ofereça as condições necessárias para a recuperação do dependente químico.
Ou seja, a internação psiquiátrica, ao contrário do que muita gente possa imagina, não é feita em um hospício, e sim em uma clínica ou estabelecimento que oferece condições humanas para o paciente.
Infelizmente, o Estado não oferece os recursos necessários para o tratamento dos dependentes químicos que estão se reunindo nas conhecidas cracolândias, espalhadas pelos grandes centros urbanos, e não apresenta ainda condições de criar métodos eficazes de prevenção ao uso de drogas.
Diante disso, na maior parte das vezes, é a própria família que deve arcar com os custos de uma internação psiquiátrica, muito embora a legislação e a própria Constituição estabeleçam que a saúde é um dever do Estado.
O que se deve entender que a condição mental e física de um dependente químico que perdeu a capacidade de discernimento e poder de decisão, não pode esperar. As drogas consomem lentamente, tanto o cérebro quando o corpo físico do paciente e, quanto mais houver demora para o começo de um tratamento, também pior ficará a situação.
Para a família, o processo é bastante doloroso: ver um filho, um pai ou qualquer outro integrante ser consumido lentamente pelas drogas não é um quadro que se possa aceitar passivamente.
Por isso, antes que se instale uma tragédia, a internação psiquiátrica é a alternativa mais lógica e viável para recuperar o dependente químico e possibilitar que ele retorne às suas atividades normais e ao convívio com seus familiares e amigos, que resgate suas capacidades intelectuais e que se torne novamente uma pessoa saudável e produtiva.
A principal alegação de muitos especialistas é que a internação contra a vontade do dependente apresenta resultados pífios, não oferecendo recuperação a mais do que 10% das pessoas tratadas. Porém, é a única forma atualmente viável de começar um tratamento e possibilitar a recuperação do dependente químico.
Mesmo que seja uma medida não aprovada pela maior parte dos especialistas médicos, a internação, compulsória ou involuntária, não é nada mais do que um meio de tratamento que, quando utilizado da forma correta, oferece como resultado a melhora das condições físicas e mentais de um dependente químico, com seu retorno ao meio em que vivia e às atividades que eram parte de sua rotina.
Havendo uma mínima possibilidade de recuperação, a internação psiquiátrica deve ser aplicada, seja de forma voluntária, a pedido do próprio dependente químico, seja de forma involuntária ou compulsória. Afinal, vale mais a vida do familiar arrastado para o mundo das drogas do que a opinião de pessoas que não estão convivendo diretamente com o problema.
O tratamento dependência química deve começar, se necessário, através da internação psiquiátrica. Mas, não termina na alta do paciente: a dependência química é uma doença crônica, que deve ser acompanhada pelo restante da vida do dependente, principalmente para evitar recaída.
Se você tem algum familiar que não aceita ajuda, procure o tratamento e encontre uma empresa de “resgate dependente químico”. O dependente, no futuro, vai agradecer.